Franz Liszt, oil on canvas by Henri Lehmann, 1840; in the Carnavalet Museum, Paris.
"Ce qu'on ne peut dire et ce qu'on ne peut taire, la musique l'exprime".
Victor Hugo
("Aquilo que não conseguimos dizer, aquilo que não conseguimos calar, a música expressa".)
Como eu já expliquei desde 2005 no post Por que literatura?, eu não gosto de falar sobre notas cotidianas, mas de coisas que merecem mais a nossa atenção e o nosso tempo. Entretanto, tenho que abrir uma exceção que é totalmente merecida. Estava a pensar em coisas para escrever sobre música neste querido blog, mais especificamente sobre Bach, quando fui ao concerto da "soft opening" do Municipal neste sábado, prestigiar a nossa OSB e checar a reforma da casa, quando eu percebi que essa tarde merecia um registro eterno na efemeridade blogueana do cybertexto.
Mas não vou dar uma de crítica nem falar do concerto todo, porque já vi que um monte de blogs especializados se apressaram em dar conta do recado.
Queria apenas falar da última peça, o Hexameron, de Liszt. Composta em 1837, ela consiste em um tema e variações sobre uma ópera de Bellini, realizada sob encomenda pela princesa italiana Cristina Trivulzio Belgiojoso por seis compositores: Fréderic Chopin, Sigismond Thalberg, Henri Herz, Carl Czerny, Johann Peter Pixis e Franz Liszt, que foi quem organizou, compôs a maior parte, fez as ligações e editou.
Que interessante: enquanto algumas pessoas são apátridas, Franz Liszt tem duas: Hungria e Áustria. Este é o centro cultural moderno, feito pela Áustria, na cidade natal do compositor, Raiding, construído em frente à casinha onde nasceu o compositor austro-húngaro (?). É uma cidade de 900 habitantes a 80 quilômetros de Viena. O prédio foi construído pelo escritório de arquitetura austríaco Atelier Kempe Thill, vencedor de uma competição em 2004.
E este aqui é o Museu e Centro de Pesquisa de Liszt em Budapeste, ou melhor, de Liszt Ferenc.
Foto terrível do meu celular - o concerto estava esgotado, consegui de última hora um ingresso para o balcão simples, já viram! A regência era do Arakaki.
Direto do túnel do tempo: página do programa atual da OSB com o Hexameron de 1979. Como a leitura está difícil, os pianistas foram: Antônio Guedes Barbosa, Arthur Moreira Lima, Fernando Lopes, Jacques Klein, Nelson Freire e Yara Bernette. Esta cápsula do tempo eu gostaria de ter tomado para este dia de 79.
Pois bem, para esta magnífica tarde de 8 de maio de 2010, estavam, cada um em um piano de cauda, os pianistas brasileiros: João Carlos Martins (que sempre me comove, nem sempre por razões musicais), Fernando Lopes, Gilberto Tinetti, Jean-Louis Steuerman, José Feghali, Arthur Moreira Lima. A despeito de pequenas falhas técnicas (e estruturais, como a qualidade dos pianos), tudo o que se pode dizer é que foi um daqueles momentos para a gente guardar na caixinha de recordações e passar o cadeado.
Como sou fã do Horowitz, segue uma versão sua da parte II do Hexameron, o Alegro Marziale, refestelem-se!: