Escritor Michel Houellebecq, que acaba de receber um Goncourt para a prateleira.
Por essa ninguém esperava: Michel Houellebecq recebeu nesta segunda-feira o prêmio Goncourt, o mais importante da literatura francesa. E, ao mesmo tempo, todo mundo esperava. Em 1998, o livro-sensação que balançou a intelligentsia francesa Particules élémentaires (Partículas elementares) perdeu inesperadamente para Confidence pour confidence, de Paulo Constant. Em 2005, o romancista quase levou o prêmio pelo livro Possibilité d'une île (Possibilidade de uma ilha), faltando apenas um voto.
Sobre o livro que recebeu o prêmio, la Carte et le territoire (O mapa e o território), o jornal Libération afirma que é notadamente bem construído, voltado para o amor à arte, sem tantas provocações ou o excesso de erotismo dos outros livros.
Filme Partículas Elementares (Elementarteilchen) de 2006 do diretor alemão Oskar Roehler baseado no livro de Houellebecq. Aqui, os dois personagens centrais, Annabelle (interpretada por Franka Potente) e Michael Djerzinski (interpretado por Christian Ulmen), o alter ego do autor que leva invariavelmente seu nome (aqui modificado). Eu assisti a esse filme apenas no ano passado e gostei muito - trata-se de uma transposição bastante fiel ao livro, exceto pelo final que é amplamente modificado.
Após receber o prêmio, Houellebecq disse:
«Il y a des gens qui ne sont au courant de la littérature contemporaine que grâce au Goncourt, et la littérature n’est pas au centre des préoccupations des Français, donc c’est intéressant.»
(Há pessoas que só ficam sabendo sobre literatura contemporânea graças ao Goncourt e a literatura não está no centro das preocupações dos franceses, portanto, é interessante.)
A minha relação com Houellebecq começou na época que fazia o curso de mestrado em literatura francesa, há uns oito anos. Nas horas vagas, eu comprava para ler MAIS LIVROS franceses além dos designados pelos meus professores. Foi lendo uma matéria sobre o "polêmico" Michel Houellebecq que eu me interessei. Foi como levar um soco, fiquei completamente apaixonada pela escrita dele e o modo como ele alterna imperceptivelmente a mais ácida ironia com uma melancolia exacerbadamente lógica sobre o mundo e tudo o que nos rodeia. Eu me lembro que na época quase mudei o foco da minha pesquisa por causa dele, mas já tinha sido MORDIDA pela "mosquinha" modianesca (meu trabalho foi sobre Patrick Modiano).
Aqui sendo devorado entrevistado por aves de rapina jornalistas no restaurante Drouant, onde os membros do Goncourt se reúnem toda terça e onde decidem uma vez por ano o laureado do momento. (Foto AFP Fred Dufour, publicada no Libération).
Só a título de demonstrativo, aqui um trecho em que o personagem Bruno, de Partículas Elementares, fala sobre o Brasil:
"Il commençait à en avoir marre de cette stupide manie pro-brésilienne. Pourquoi le Brésil? D'après tout ce qu'il savait le Brésil était un pays de merde, peuplé d'abrutis fanatisés par le football et la course automobile. La violence, la corruption et la misère y étaient à leur comble."
(Flammarion, 1998, p. 134)
"Ele começava a se encher dessa mania idiota pró-Brasil. Por que o Brasil? Para ele, o Brasil era um país de merda, povoado de trogloditas fanáticos por futebol e corrida de automóvel. A violência, a corrupção e a miséria atingiam o seu ápice nesse país."
Achei na Livraria da Travessa vários títulos dele publicados no Brasil, mas aviso que para ler Houellebecq, tem que ter estômago!!!
E neste link, um artigo muito bom sobre ele do Scliar, publicado em 2002 na Veja, em que ele pergunta se Houellebecq seria o "novo Camus" (na minha opinião, a figura dele de escritor está mais para "novo Céline").
Houellebecq é POP!!!!:
Aqui em almoço no ano passado, com Iggy Pop, que estava fazendo seu último álbum inspirado no romance de Houellebecq, Possibilité d'une Isle (Possibilidade de uma Ilha).
Aqui em vídeo ao lado do (ultra-pop) filósofo Bernard-Henri Lévy, em ocasião da divulgação do livro em que fizeram um embate verbal: Ennemis publiques (Inimigos públicos) - o vídeo está em francês, sem legendas (JÁ pleiteei antes aqui a minha causa: FRANCÊS É 10! Já para a Aliança quem gosta de literatura!).
M.Houellebecq et B-H. Lévy
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