Foto do filme Figli/Hijos (Filhos), de 2001, de Marco Bechis, sobre a ditadura argentina.
Há duas semanas assisti a um filme ítalo-argentino chamado Figli/Hijos (Filhos) sobre o qual eu gostaria de falar aqui desde então. Sobretudo porque ainda não tinha assistido os filmes anteriores de M\arco Bechis, que focaliza a sua obra na época que aqui no Brasil muita gente quer esquecer - a ditadura militar no seu pais (no caso, a Argentina).
Pois bem: duas notícias recentes lançaram os holofotes no assunto aqui no Brasil e fizeram com que eu me lembrasse de comentar o filme. Mas vamos às notícias. A primeira, publicada na agência de notícias da Câmara dos Deputados no dia 17 de março, dá conta de que "A Comissão da Verdade" será discutida em audiência pública. Já de cara fiquei atarantada com esse título - Comissão dos Arquivos da Ditadura, Comissão de Levantamento de Dados da Ditadura -, por exemplo, dariam conta do recado e seriam menos intimidadores. Se bem que, embora extremamente necessária a nossa democracia (para não dizer dignidade), não importa o batismo, a comissão enfrenta rejeições à esquerda e à direita. O objetivo da criação desta comissão, segundo o texto da proposta, é "esclarecer casos de violação de direitos humanos ocorridos no período da ditadura".
A outra foi a matéria do Eumano Silva, da revista Época, para a rádio CBN de hoje (1º de abril) dizendo que o General Heleno foi orientado pelo comandante do exército a não fazer o discurso que faria ontem (31 de março - data do estabelecimento do golpe militar em 1964) na tradicional data comemorativa do que os militares costumam chamar de "contra revolução" (sempre questão de nomes!), possivelmente, julga Eumano, porque a presidente Dilma é uma ex-torturada.
Pois agora vamos ao filme. A história é a seguinte: uma mulher dá à luz enquanto dois homens aguardam para levar o recém-nascido. Porém nasce um casal de gêmeos e a parteira consegue esconder a menina dentro da bolsa e sair com ela. Vinte anos após, em Milão, na Itália, um rapaz chamado Javier é procurado por uma moça chamada Rosa, que diz ser sua irmã gêmea e que lhe conta que foram separados ao nascer. Para descobrir quem verdadeiramente é, ele topa viajar com a moça para Barcelona, onde irão se encontrar com a parteira e fazer um teste de DNA. A história ainda se complica mais um pouco, mas, afinal, Javier descobre a sua terrível história e a de seus pais.
Carlos Echevarria como Javier Ramos, em Filhos
Como toda a força do filme reside no que irá acontecer, eu não vou revelar essa parte da história, mas o que eu queria observar sobre esse corajoso filme e que diz respeito a nós igualmente é que:
1. Se esquecemos o passado embaixo do tapete, ocultamos, douramos ou simplesmente recriamos os fatos que aconteceram, não informamos as novas gerações o que houve, corremos o risco de que a história se repita. Ainda temos tempo de reconstruí-la em detalhes (pois temos remanescentes dos dois lados, muitos vivos e alguns inclusive no governo- e na presidência), mas a cada década vai ficando mais e mais difícil.
2. Se não conhecermos a nossa história e ficarmos a par das nossas origens, corremos o risco de não saber quem somos.
CAST ARTISTICO |
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CARLOS ECHEVARRIA
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Javier Ramos
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