Adoro a tecnologia, mas confesso que sou completamente aficcionada em livros. Sei lá, gosto do peso, do cheiro de papel novo/ velho, de fazer anotações, sublinhar trechos com lápis, gosto de carregar meus livros para todo lugar. Se vou ao dentista ou ao médico, sem estresse, tiro meu livrinho do bolso. Em qualquer situação que eu tenha que esperar: na fila do mercado, no salão de beleza, no banco, no departamento público, quando as pessoas normalmente estão fazendo soduko, jogando no I-pad, folheando a Caras ou falando no celular, eu estou com meu livrinho (é um dos assuntos prediletos da minha manicure, por exemplo, perguntar sobre o que eu estou lendo).
Por isso, tenho uma especial predileção pelos livros de bolso (imagina viajar no metrô em pé, segurando-se com uma mão e na outra, um exemplar de Anna Karenina...). Sendo assim, estou lendo sempre, pelo menos, dois livros - um para a mesinha de cabeceira (que pode ser Anna Karenina) e outro para ter à mão e ser sacado em caso de necessidade. Isso tudo é para explicar o que me levou a comprar o livro As Consolações da Filosofia, (Rocco L&PM Pocket, 2012) de Alain de Botton no mês passado, justamente em um período que eu tenho que ler pelo menos uns dez livros de estudo. Eu já conhecia o autor do excelente How Proust can change your life (Como Proust pode mudar a sua vida, lançado no Brasil pela Intríseca, em 2011), que também foi uma maravilhosa diversão de bolso na época, eis que vejo o nome do autor de novo em outro livrinho pequeno, não resisti. Nunca tinha ouvido falar desse outro sucesso de Botton (na verdade, não acompanho sua carreira), mas ao folheá-lo, não consegui simplesmente parar de ler.
Ao contrário de muita gente que torce o nariz para o filósofo midiático, eu gosto muito. Esse fenômeno que jamais vai existir no Brasil - o filósofo-pop - é comum em certos países (na França, por exemplo, eles têm o Bernard-Henri Lévy, o famoso "BHL", que tinha programa na TV e tudo). Alain de Botton ficou muito famoso com esses livros que ligam filosofia à auto-ajuda e com a fundação da School of Life, em Londres, onde vive. Para quem nunca ouviu falar, trata-se de uma universidade onde se estuda matérias que nunca são abordadas em outras instituições (por exemplo: carreira, casamento, felicidade). O objetivo da escola é trazer o conhecimento existente para ajudar as pessoas a trabalharem melhor essas questões da vida, sem o auxílio da religião (Alain é declaradamente ateu, como aliás, 99% dos filósofos - afinal, como conciliar uma carreira que questiona tudo como uma doutrina cheia de dogmas?).
Quadro The Death of Socrates, pintado por Jacques-Louis David em 1787, pertencente ao Metropolitan Museum de Nova Iorque. A pintura é ponto de partida da narrativa de Botton.
Pois bem: As Consolações da Filosofia foi uma grata surpresa, não conseguia mais parar de ler. Com uma prosa fácil, como se estivesse batendo um papo com o leitor, Alain de Botton convoca Sócrates, Epícuro, Sêneca, Michel de Montaigne, Schopenhauer e Nietzsche como exemplos de como se comportar em determinadas situações da vida. Como eu aproveitaria muito pouco do que esses filósofos disseram, o livro funcionou para mim como uma aula de filosofia interessante e divertida. Sabemos detalhes da vida destes filósofos importantes e a maneira como suas ideias foram recebidas na época, detalhes de cartas pessoais que eles escreveram, suas opiniões sobre o amor, o dinheiro, a carreira etc. Leitura recomendadíssima.
Aqui a L&PM publicou um trailer do livro: