A loja da Travessa do Ouvidor, uma ruela pitoresca e cheia de história no coração do centro do Rio. Ainda mais estreita do que a já exígua rua do Ouvidor, que lhe deu o nome, pois era a rua mais importante do Rio do século XIX. Foto: Rio Film Comission.
"Vamos à rua do Ouvidor; é um passo. [...] Há nela, assim estreitinha, uma aspecto e uma sensação de intimidade. É a rua própria do boato. Vá lá correr um boato por avenidas amplas e lavadas de ar. O boato precisa de aconchego, da contiguidade, o do ouvido à boca para murmurar depressa e baixinho, sem saltar de um lado para outro."
Machado de Assis, Livreiro da rua do Ouvidor.
Se a Livraria Leonardo da Vinci me traz pensamenos nostálgicos, a Livraria da Travessa, ao contrário, pertence ao tempo presente. É, sem dúvida, o lugar que eu mais aprecio frequentar atualmente. Embora eu tenha conhecido a loja da Travessa do Ouvidor (daí o nome), quando ainda trabalhava no centro há uns 15 anos, só comecei a frequentá-la mesmo quando foi aberta a filial de Ipanema, próximo à rua Garcia D'Ávila, uma loja relativamente pequena. Hoje, essa filial fechou e virou butique de acessórios femininos. Mas, para a alegria dos ipanemenses, ela foi substituída pela mega store da Visconde de Pirajá, ou o "Travessão", como é carinhosamente chamada.
Livraria da Travessa de Ipanema, na Visconde de Pirajá. O "Travesão". Foto Marcia Caetano.
Além de livros, muitos livros, das mais diversas áreas, inclusive importados, livros de arte e de fotografia de BABAR, livros sobre moda, design, decoração, uma boa leva da literatura contemporânea e clássica, além das ditas ciências humanas (Psicanálise, Antropologia, História, Sociologia, etc), a Livraria de Travessa tem algo mais. Há cds, DVDs e até um simpático bistrô, o Bazzar Café (chique, almoçar rodeado de livros, hein?). E, para completar, faço parte de um clube de leitura muito legal da Livraria da Travessa de Ipanema, fomentado pela Cia. das Letras, onde conheci pessoas super bacanas e dividimos nossas experiências e impressões (não apenas sobre os livros). Aliás, esse é ponto alto da Travessa: procura sintonizar seus leitores, as editoras e a literatura através de encontros, debates, palestras. Eu mesma adoro ir ao bate papo com escritores na filial do Shopping Leblon. Só não vou mais porque não tenho tempo.
Estátua de Pixinguinha, na Travessa do Ouvidor, a ruela transversal entre a rua do Ouvidor, que já foi a mais importante do Rio, decantada em crônica de Machado de Assis, e a rua Sete de Setembro. Fonte aqui.
Foto da filial do Shopping Leblon: além de um auditório bem equipado para palestras, tem de tudo e é linda. Eu poderia passar uma semana esquecida na seção dos "livres de poche" deles, amo!
Rua do Ouvidor, 1880, Foto de Marc Ferrez. Fonte aqui.
Nunca soube antes de escrever este post, mas a livraria da Travessa é filhote da Dazibao, que eu frequentava antigamente (sou traça de livro desde pequena, gente). E a Dazibao era filhote da Livraria Muro, criada em 1975, que, segundo o fundador da Travessa em entrevista concedida a este site aqui, foi "um espaço de encontro, discussão, literatura e resistência" (só para lembrar: estávamos em plena ditadura militar, onde "espaços para discussão" era o tipo de coisa mal-vista). Daí, talvez seja a razão principal de eu gostar tanto da Travessa: adoro um bate-papo, ainda mais com escritores!
Hoje a Livraria da Travessa está em sete endereços: quatro no centro da cidade, uma em Ipanema, uma no Shopping Leblon e outra no Barra Shopping. Ou seja: não é por falta de opção que vocês não vão lá, hein?
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