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Raquel Sallaberry

Marcia,

lendo seu post dei-me conta que não lembro de praticamente mais nada de Madame Bovary. Outro detalhe, e já não tenho muita certeza, é que na época não gostei de Emma por ela não saber administrar dinheiro. Mas tudo isso é uma memória distante demais. Preciso ler de novo!

MarciaCL

Raquel, a primeira vez que eu li Madame Bovary foi aos 19 anos, eu simplesmente detestei Emma. Lembro que, na época, eu imaginava que se eu tivesse a infelicidade de ter uma mãe como a Emma, eu a detestaria para sempre. Mas, relendo o livro (acho que eu já li este romance umas quatro ou cinco vezes) e, com o favorecimento dos anos que passam e da maturidade que chega, consegui compreender finalmente quem ela verdadeiramente é. Releia o livro, pois você com certeza terá outra impressão. No que diz respeito a dinheiro, é um erro achar que Emma não sabia administrar, ao contrário, ela prova que é uma verdadeira mulher de negócios, consegue extrair dinheiro de todos os pacientes devedores do Charles, sem que ele saiba, consegue administrar a casa durante um bom tempo (enquanto ela quer, pelo menos). A ruína dela é menos por incapacidade e muito mais por um irresistível impulso à autodestruição, a carência de Emma é tão profunda que ela quer sempre mais, só para descobrir que nada lhe satisfaz completamente. Nesse sentido, Emma é bem moderna.

Sofia

Marcia,
Li Emma pela primeira vez há dois anos e, com seu post, fiquei com aquele gostinho de reler essa história tão minuciosamente contada por Flaubert. De fato, vendo os manuscritos do romance podemos perceber o quanto esse autor se entregou por completo na sua busca pela perfeição formal... É de fato uma obra impressionante. Pensando agora, realmente ele nos entrega a personagem de forma tão completa que quase podemos senti-la, de tão real. Adorei os trechos demonstrando esse fluxo de mudanças através das quais a personagem vai se desenvolvendo segundo seu próprio consciente e insconsciente... Fantástico! Belíssima a cena da extrema-unção! Pressinto que ainda vou mergulhar muitas outras vezes nesse romance...

Beijos

angelina

Oi, Márcia, gostei muito do seu blog. Você tem toda a razão quanto a tradução errada. Claro, que são os olhos dela. O tradutor deu uma pequena cochilada...
Acho Emma uma mulher moderníssima, pelo simples fato de que ela sempre quis viver o seu "desejo", coisa completamente impossível no século XIX, principalmente dentro daquele contexto.
Quando Gustave Flaubert diz que "Madame Bovary c'est moi", acho que é exatamente por isto, pela postura "masculina" dela.
Aliás, os personagens masculinos do livro são frágeis.
A pulsão do desejo, quando não realizado, certamente leva a um comportamento autodestrutivo.
Felipe Pondé diz "o desejo é sempre triste. Apenas quem não o conhece o julga redentor" Diz, ainda que " o ciclo do desejo é um círculo infinito cuja esfera está em toda parte e o centro em parte alguma. Este movimento descreve o sem-fim do inferno humano" E eu acrescento, inferno este vivido plenamente por Emma Bovary.

MarciaCL

Sofia, já li Madame Bovary algumas vezes e com certeza o lerei de novo. Aliás, Flaubert vale à pena reler várias e várias vezes. Estou com Educação Sentimental agora. Para mim, ele é como um "antídoto" contra a mediocridade. Quando a vidinha fica muito medíocre, muito no dia-a-dia, muito banal, apelo a ele e outros, como Proust e Jane Austen, que sempre me surpreendem e me tiram do "planisfério astral".

MarciaCL

Angelina, que honra você visitando meu blog! Luiz Felipe Pondé diz coisas muito interessantes, gostei dessa observação dele. Gosto também de uma frase dele em uma entrevista quando disse que "envelhecer não é para covardes", tenho isso em mente muitas vezes. De fato, há pessoas que se consomem pelo desejo, é o caso de Emma e de muitas mulheres do século XIX principalmente, quando tinham que conviver com frustrações gigantescas, sem dar um pio. É claro que isso não podia fazer bem a ninguém. Um aspecto interessante nos comentários de Béatrice Didier na edição do Livre de Poche do meu Madame Bovary em francês é quando ela fala sobre o gozo de Emma. Ela diz que, para chegar a essa impressão no romance - como descrever o prazer feminino sendo um homem? - Flaubert confessou que fez uso de sua experiência com a eplepsia. Estranho, mas o resultado foi muito convincente! Ela dá também o exemplo da cena em que Emma está sendo amparada no quarto, após ter lido a carta de Rodolphe acabando tudo e escuta a carruagem dele saindo da cidade. Ela dá um grito e despenca no chão inerte. Béatrice Didier chama a atenção que esse é um quadro clássico de eplepsia. NESSE SENTIDO também é que Flaubert quis dizer "Emma Bovary sou eu", há muita coisa íntima dele na própria Emma.

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