Carey Mulligan, no excelente An Education, uma possível Eilis segundo eu a vejo.
Com certeza, os antenados leitores (e leitoras) deste blog já leram o livro Brooklyn, do irlandês Colm Tóibín, que conta a história de uma imigrante irlandesa nos Estados Unidos nos anos 50. Eu ainda não tinha tido o prazer. Mas nada como fazer parte de um grupo de leitura para nos deixar a par das novidades. Graças ao grupo que eu frequento, fomentado, digamos assim, pela Cia. das Letras na Livraria da Travessa, conheci mais este autor.
Como niguém lá no grupo achou a mesma coisa que eu sobre o livro, resolvi escrever este post. Isso porque percebi enormes semelhanças, influências, conexões, ecos (!) de Jane Austen em Tóibín. Que fique claro: Jane é Jane, Tóibín é Tóibin. Mas Brooklyn tem muita coisa que me fez pensar na divina Austen.
Teria o nome da personagem a ver com Ellis Island, a ilha onde chegavam os imigrantes em Nova Iorque? Foto An Education.
Para começar, a personagem principal Eilis Lacey, deixa sua terra natal - Enniscorthy - na Irlanda para ir morar no Brooklyn à revelia da sua vontade, pois sua família desejava que ela tivesse um futuro melhor. Lembraram-se de alguém? Como não pensar em Fanny Price, de Mansfield Park? Assim como Fanny, Eilis será condenada a ser uma eterna estranha, tanto na nova terra em que vive quando na sua terra natal, quando brevemente retorna à ela (embora Fanny tenha uma mudança em relação a este aspecto ao final de MP). Assim como Fanny, ela é uma silenciosa, laboriosa, prestativa, educada e sensata jovem que, entretanto, enfrenta injustas objeções ao seu caráter.
As colegas de Eilis na casa em que morava de aluguel no Brooklyn podem ser consideradas retratos bem fiéis das irmãs desmioladas de Elizabeth Bennet (de Pride and Prejudice): só pensavam em bailes e rapazes - com uma pitada das irmãs de Charles Bingley (do mesmo livro), pelo olhar preconceituoso que tinham em relação aos outros.
Ewan McGregor, com seu sorriso de garoto otimista, daria um ótimo Tony na minha opinião. O louro (bastardo?) no meio de uma família de morenos italianos. (Foto filme Perfect Sense)
E, finalmente, Tony, o namorado ítalo-americano de Eilis, com todo o seu excesso de otimismo e boa vontade, com uma certa inocência no jeito de ser, não seria uma versão brooklyniana do próprio Bingley? Só que, enquanto em Pride and Prejudice ele é um rico proprietário de terras, no Brooklyn um bombeiro hidráulico que morava num quarto e sala com a família já podia ser considerado um "partidão".
Aliás, embora trabalhasse em uma loja bem grande e cruzasse com um grande número de homens o dia todo, Eilis conhece Tony........em um BAILE!!!! Os bailes de caridade do padre Flood são acontecimentos cruciais na vida daquelas jovens.
O ponto de vista do livro - é todo narrado pelo olhar de Eilis- o que nos lembra muito Sense & Sensibility, que é fortemente marcado pelo olhar de Elinor.
Pode ser que eu fui longe demais nas comparações, mas não sei não. Colm Tóibin é também crítico literário e um apaixonado por Jane Austen. Nesse vídeo feito em homenagem à Jane pelo Museu e Biblioteca Morgan, Tóibín fala sobre sua relação com essa autora. Para ele, ir para cama com um livro de Jane Austen é a imagem mais pura da felicidade. Ele chega a afirma que é ainda melhor do que levar uma pessoa para a cama que, nas palavras dele, "pode ser mais legal em alguns aspectos, mas não tão completamente satisfatório".
The Divine Jane: Reflections on Austen from The Morgan Library & Museum on Vimeo.
Desde já recomendo a leitura. Aqui, críticas bem mais abalizadas que a minha:
Daily Telegraph e New York Times.
E aqui lindíssimas imagens de certos ambientes do Brooklyn dos anos 50, da agência Magnum:
NEW YORK CITY—Brooklyn Gang, 1959.
© Bruce Davidson / Magnum Photos
Marcia,
cheguei agora há pouco da livraria Cultura, onde fui comprar meu livro do mês, também para meu grupo de leitura da Cia. das Letras. Leremos de Kazuo Ishiguro, Não me abandones jamais, que coincidência, também foi transformado em filme estrelado pela talentosa Carey Mulligan!
Agora descobri, quando Janine me disse que havia conhecido alguém no Clube do Rio, que me conhecia. É você, mocinha!
Vou fazer um post remetendo a este teu post. Ao fim e ao cabo, vemos Jane em toda parte.
PS: Amanhã vou ler com calma teu texto e qualquer dúvida te mando um mail. Obrigada e beijocas!
Posted by: Raquel | sábado, maio 28, 2011 at 00:11
É verdade, eu conheci a Janine uma vez que ela veio ao Rio. Estou adorando meu grupo, todos são pessoas bem interessantes e não há um só dia que eu não saia de lá com um ponto de vista novo. Qualquer dia desses a Cia. das Letras podia promover um "encontrão" com todo mundo dos grupos de leitura, que tal? (eles dando a passagem, he,he...)
Posted by: MarciaCL | segunda-feira, maio 30, 2011 at 16:36
Marcia,
Apesar de não conhecer o romance em questão (que com certeza já está na minha lista, hehe), gostei bastante das relações que você fez com os personagens e com o discurso da Jane Austen. Adoro quando leio livros que posso fazer esse tipo de relação com os personagens da Jane! Acho que ela retratou personagens e situações tão universais, que sempre podemos ver um pouquinho dela por aí! hehe Mas com certeza, se ele é admirador de Austen, deve haver referências.. :)
Adorei o comentário do Tóibin. Concordo absolutamente!
(Assisti An Education outro dia. Gosto muito da Carey Mulligan e adorei o filme! Reviravolta muito interessante no fim, não acha?)
Beijos!
Posted by: Sofia | segunda-feira, julho 04, 2011 at 18:02
Sofia, eu gostei muito de Educação com Carey Mulligan. Aliás, ela gahou um Bafta por esse trabalho. Soube que é uma autobiografia de uma jornalista inglesa e fiquei com muita vontade de ler o livro original. Um dos meus autores favoritos, Patrick Modiano, diz sobre a adolescência que é um período de extremos que irá definir toda a sua vida. Ali você pode se encontrar ou se perder para sempre. Acho que é bem o caso desse filme.
beijos,
Marcia.
Posted by: MarciaCL | terça-feira, julho 05, 2011 at 15:25