Audrey Tautou como Nora, na peça A Casa de Bonecas, do norueguês Henrik Ibsen, encenada por Michel Fau este ano em Paris (Foto: jornal L'Express)
"Between those four walls she had lived ever since; they were to surround her for the rest of her life. It was the house of darkness, the house of dumbness, the house of suffocation. [...] Of course it had not been physical suffering; for physical suffering there might have been a remedy. She could come and go; she had her liberty; her husband was perfectly polite. He took himself so seriously; it was something appalling. Under all his culture, his cleverness, his amenity, under his good-nature, his facility, his knowledge of life, his egotism lay hidden like a serpent in a bank of flowers."
(The portrait of a lady - Henry James, Cap. 42)
"Ela tem vivido entre aquelas quatro paredes e elas estarão à sua volta para o resto da vida. Ali habitavam a escuridão, o silêncio, a repressão. [...] Estava claro que não se tratava de sofrimento físico, pois para a dor física haveria remédio. Ela tinha liberdade de ir e vir; seu marido era perfeitamente civilizado. Ele se levava tão a sério que era assustador. Sob toda a sua cultura, sagacidade, cortesia, sob a sua mabeabilidade, habilidade, o seu conhecimento da vida, ocultava-se o seu egoísmo, como uma serpente em um canteiro de flores."
A série sobre os Oponentes que eu comecei neste blog continua agora com outra vertente. Talvez nem sempre as mulheres emancipadas de hoje se recordem, mas o casamento - a mal-afamada instituição conjugal e célula social responsável até hoje na maioria dos casos pelos primeiros cuidados dos futuros cidadãos - esteve na mira da literatura do século XIX. Em particular, o papel que desempenhavam as mulheres, em desvantajosa posição nesta célula, no embate do indivíduo em busca do seu lugar ao sol. De dentro desses lares infelizes, saíram alguns dos exemplares mais marcantes da literatura mundial: Emma Bovary, Capitu, Nora, Anna Karenina.
Seus oponentes? Charles Bovary, Bentinho, Torvald, Alieksiei Alieksándrovitch Karênin, respectivamente.
Nicole Kidman (Isabel Archer) e John Malkovich (Gilbert Osmond) na versão de 1996 da Jane Campion para The Portrait of a Lady, os oponentes da citação acima. Só vi um trecho do filme, mas deu para notar que a Jane Campion apelou para a violência física para desvelar o caráter de Osmond, enquanto Henry James foi explícito em enfatizar que se tratava de outro tipo de violência. Seria Hitchcock o único que conseguiu filmar bem o terror psicológico?
Entretanto pretendo ainda assistir o filme para dar um veredito final.
A partir deste e de outros posts, começa a série intitulada Entre quatro paredes, que é a continuação da que eu chamei de Oponentes na literatura, analisando estes personagens na obra de Jane Austen, dessa vez analisando outros autores, como Gustave Flaubert, Henrik Ibsen, Machado de Assis, Leon Tolstói e, se a preguiça deixar, um ou outro mais...
Até o próximo post!
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