Tony Curtis, ou Bernard Schwartz, nos anos 50, auge do sucesso da sua carreira
Senti uma pontada no coração quando li a notícia que Tony Curtis morreu ontem, aos 85 anos. A pontada deveu-se menos a ele entretanto - que acho que teve uma vida relativamente boa (só para mencionar um dado: em seus bons tempos, foi um dos que "andaram pegando" a Marilyn Monroe na tela e fora dela). Mas senti uma certa melancolia nostálgica por toda uma época da qual ele foi uma participante testemunha: a década a seguir à Segunda Guerra nos Estados Unidos (não que EU tenha vivenciado esse tempo, nasci bem depois, gente).
Cena do iate de Quanto mais quente melhor: Tony Curtis e Marilyn Monroe - na biografia que ele publicou há alguns anos contou que, além de usar um vestido transparente, Marilyn ainda tirou o tecido que deveria tapar seus seios.
Naquele tempo que eu considero a Belle Époque Americana, boa parte do mundo estava encantada com a cultura ianque: era jovial, vigorosa, concreta, engraçada, tudo o que, de alguma maneira, Tony Curtis representava. O cinema e a literatura americanos inspiravam outros artistas na Europa (vide meu post sobre o Nouveau Roman) e as grandes estrelas de Hollywood eram reconhecidas no mundo todo. Não sou historiadora e nem quero dar pitaco na seara dos outros, mas quem sabe essa época acabou com o tiro dado no presidente Kennedy em 63...fica esta questão a quem quiser palpitar por aqui.
No plano pessoal, também senti a perda do ator da comédia mais engraçada da história do cinema: Quanto mais quente melhor (Some like it hot), na qual ele atuou junto com Jack Lemmon e Marilyn, de um diretor judeu de origem austríaca que, para fugir de Hitler, mudou-se para os EUA, onde fez história no cinema. Eu sou verdadeiramente APAIXONADA por Billy Wilder, vi basicamente tudo de importante que ele fez e adoro esse filme engraçadíssimo com algumas das falas mais inteligentes da história da comédia, como essa cena final que pode ser vista aqui e inspirou o título deste post:
No livro Billy Wilder e o cinema inteligente (eu aluguei na biblioteca do Instituto Goethe do Rio, não precisa ser aluno para ficar sócio), Glenn Hopp revela duas curiosidades que podem se resumir nessa atração que os EUA exercia sobre os europeus. A primeira foi quando Billy Wilder chegou para morar nos Estados Unidos. Ele contou que nevava muito de manhã cedo e ele viu um garotinho que entregava jornais na vizinhança sendo levado pela mãe na limusine da família para cumprir seu serviço, pois ela ficou com pena de ver o filho andando na neve carregando os jornais...Wilder pensou "uau! Aqui eles entregam jornais em limusines!"
O livro de Glenn Hopp, publicado pela Taschen, está à venda em toda a parte.
A segunda história é sobre Marilyn Monroe, com quem ele adorava trabalhar. Ele disse que NUNCA, nem uma só vez ela chegou pontualmente para filmar. Então Billy Wilder observou ao jornalista: "eu tenho uma tia na Áustria que é famosa na família pela sua extrema e inabalável pontualidade durante a vida toda. Mas quem quer ver a minha tia na tela do cinema?"
Mas voltando à Tony Curtis, o The New York Times publicou uma matéria bem completa sobre o ator que nasceu Bernard Schwartz em 3 de junho de 1925 e a sua carreira no cinema (e fora dela). Não sei quanto tempo fica no ar, mas a matéria pode ser lida aqui por enquanto. Nela, o jornalista Dave Kehr destaca que Tony Curtis era mais do que um rostinho bonito: tinha realmente talento, um quê dramático, muito devido a uma infância dickenseniana (foi a expressão que Dave Kehr usou na matéria), no Bronx, em NY. Ele e o irmão vinham de uma família muito pobre, a mãe era esquizofrênica e batia nos meninos, os pais entregaram os filhos para o estado criar pois não tinham condições, depois ele perdeu o irmão atropelado por um caminhão e etc (eu mesma não li a tal biografia de Tony Curtis, mas já fiquei interessada...).
Todas cenas de Quanto mais quente...
Uma curiosidade que eu nunca tinha ouvido falar (provavelmente só eu!), é que Elvis Presley imitou o hairstyle de Tony Curtis, o topete negro (como muita gente pintou os cabelos de louros depois do sucesso da Marilyn, mas, convenhamos, ela era única).
Aqui a cena como o rico herdeiro, conquistando "Sugar", a personagem de Marylin em Quanto mais quente...