Emma Thompson e Imogen Stubbs como Elinor e Lucy, na versão de 1995, dirigida por Ang Lee e produzida por madame Wise (Thompson).
Comparativamente aos outros oponentes citados nessa série, Lucy Steele parece ter menos influência sobre Elinor e Edward Ferrars do que aquela que ocorre com outros protagonistas. Levada por estas impressões, confesso que fiquei refletindo se estaria certo incluí-la entre a lista dos oponentes, uma vez que está claro que estas figuras surgem nos romances de Austen com a função de formar tramas paralelas ou contrárias à narrativa principal. Vamos deixar claro (se ainda restar alguma dúvida): não estou falando de PESSOAS que se opõem a OUTRAS PESSOAS, mas de PERSONAGENS inflluenciando no desenrolar da trama de um romance, criando intrigas, reverberando acontecimentos que de outro modo correriam o risco de parecerem irrisórios, ou destacando sentimentos que, sem eles, perderiam muito do charme romanesco (sem falar em páginas e páginas extras de pura emoção - quem não sentiu profundamente a dor de Marianne Dashwood ao receber aquela carta fatal de Willoughby?).
Ainda a versão de 1995: o lenço traidor
Tendo em vista o exposto, revi o seu caso e percebi o quanto eu estava errada e que, sem sombra de dúvida, deveria incluir Lucy Steele na lista dos oponentes de que trato aqui nessa série, cujo primeiro post pode ser lido aqui.
Pelas seguintes razões: ao surgir na trama e perceber que Elinor é querida por Edward, Lucy, em sua própria defesa, adota uma estratégia de guerra que envolve uma série de passos que irão desestabilizar tanto Elinor quanto Edward - que inclusive adia a visita à família das Dashwood com receio de se expor. Além disso, Lucy vai praticamente testar TODO o bom-senso e (até) sangue-frio de Elinor, que precisa mostrar uma coisa que não sente, participar como confidente de uma história que desejaria não conhecer e oferecer um exemplo de auto-controle à Marianne - afinal, ALGUÉM tem que fazer isso! Sem comentar o desenlace final, em que Lucy, persistente na sua ambição de subir nos degraus da escala social, dá um golpe fatal e muda de foco na família Ferrars. É preciso admitir que a moça é coerente e persistente com suas metas, do início ao fim (ao contrário de Willoughby, por exemplo, que acaba se envolvendo de fato com Marianne).
Como sugestão de leitura sobre esse confronto, gostaria de citar aqui um texto do (ou atribuído ao -internet, nunca se sabe!) autor, educador e filósofo inglês Henry Silton Harris (1926-2007). Em estudos filosóficos sobre literatura intitulados Not said but shown que abordam autores como Sófocles, Platão, Sheakespeare, George Eliot, Jane Austen e podem ser lidos na íntegra neste local, H.S. Harris faz uma descrição detalhada sobre o que se passa entre Elinor Dashwood e Lucy Steele. Para encurtar, aqui o link do texto sobre as duas.
Aqui, a versão da BBC de 2008, com Dan Stevens e Anna Madeley, como Edward Ferrars e Lucy Steele (foto Jane Austen World)
"We do not appreciate Lucy properly because we see her very largely through the eyes of Elinor and Marianne. Both of them are very serious observers; and we know that Lucy is a hypocrite. But they are also prejudiced. Elinor's prejudice is personal, and we sympahize with her completely. Marianne has a more general prejudice against the whole world of conventional values to which Lucy belongs."
(H. S. Harrys - manuscritos)
"Nós não avaliamos corretamente Lucy porque nós a enxergamos em grande parte através dos olhos de Elinor e Marianne. Ambas são observadoras bastante sérias e nós sabemos que Lucy é hipócrita. Mas elas são igualmente preconceituosas. O preconceito de Elinor é pessoal e nós simpatizamos inteiramente com ela. Já Marianne tem um preconceito geral com o mundo de valores convencionais ao qual Lucy pertence".
Eu gostei particularmente desse trecho sobre Lucy e, em síntese, a explicação que ele dá para o casamento entre Lucy Steele e Robert Ferrars é absolutamente límpida: ela deseja status social, ele tem uma inveja sem limites do irmão e uma cabeça-oca que o faz ver a vida como um jogo - tomar a atraente noiva do seu irmão tem o sabor de um jogo delicioso, uma brincadeira em que ele estaria supostamente "levando a melhor"...
Márcia, você faará mais posts sobre os filmes/livros de Austen?
Posted by: Adriana Zardini | quarta-feira, agosto 25, 2010 at 18:40
Márcia, aqui está o post sobre os seus escritos e os devidos links. Obrigada!
Adriana
http://janeaustenclub.blogspot.com/2010/08/o-oponente-amor-e-posse-em-jane-austen.html
Posted by: Adriana Zardini | quarta-feira, agosto 25, 2010 at 18:55
Adriana,
EU que devo agradecer a você pela citação!
Certamente vou fazer mais posts sobre JA - é que infelizmente meu tempo é contado, mas dessa série dos Oponentes ainda vou postar um sobre os Crawford (de Mansfield Park) e sobre John Thorpe, de Northanger Abbey. Se tudo der certo, até o final de semana!
Gostaria de inserir seu site na minha lista de sites sobre Literatura, ok?
Obrigada novamente!
Posted by: MarciaCL | quarta-feira, agosto 25, 2010 at 23:00