Joan Fontaine como a segunda sra. de Winter e Judith Anderson, como a vilã sra. Danvers
"Graças à câmera, o público faz parte da cena e é preciso sobretudo que a câmera não se torne bruscamente distante e objetiva, sob pena de destruir a emoção que foi criada".
A. Hitchcock, em uma das entrevistas concedidas à Truffaut.
Meu filme escolhido para a blogagem coletiva do Fio de Ariadne é Rebecca - a mulher inesquecível, vencedor do Oscar de 1941, de Alfred Hitchcock.
Rebecca é o primeiro filme da fase americana de Hitchcock e era uma adaptação do romance homônimo de Daphne du Maurier de 1938. Laurence Oliver é Maxim de Winter, Joan Fontaine a segunda esposa (nunca nomeada) e Judith Anderson a governanta, Sra. Danvers.
A heroína (Fontaine), uma moça simples que trabalha como acompanhante de uma milionária, conhece e se apaixona pelo viúvo não menos milionário Maxim de Winter, com quem se casa. Ao chegar à mansão onde ele mora, passa a ser assombrada pela lembrança da primeira esposa dele, Rebecca de Winter, cuja presença é mantida viva pela governanta que a idolatra, sra. Danvers.
O filme concorreu em 1941 em onze categorias no Oscar e abriu o primeiro Festival de Cinema de Berlim.
Vejo nele toda a arte de Hitchcock em película e luz. Não li a história original ainda, mas parece que tratava-se de um romance gótico bem típico, sobre o qual o mestre do suspense transformou num thriller psicológico. Vejo ali também a típica "eloqüência visual" tão característica de seus filmes(obs: sei que não há mais trema, mas me recuso a parar de usá-la) . Cada objeto em cena, uma sombra, uma certa iluminação no rosto dos personagens, um detalhe da roupa, uma expressão corporal específica, um leve entreabrir de lábios - é um teatro magnificado, minuncioso, detalhista. Como se pudéssemos viver com lupas em frente aos olhos. Nada escapa a ele. Os filmes de Hitchcock valem sempre à pena de serem revistos por causa dessa riqueza de detalhes. Não à toa ele optou pelo suspense - que capta a emoção - em detrimento do mistério - menos profundo, mais ligado à razão.
No livro Hitchcock Truffaut - Entrevistas, Hitchcock afirma que ter feito um thriller como Rebecca contribuiu muito para que ele acrescentasse o terror psicológico em seus filmes posteriores. Em síntese, o filme teria diversos elementos que se tornaram característicos do diretor britânico: a contraposição entre a vítima e o carrasco (por exemplo, um recurso usado por Hitchcock é que a Sra. Danvers nunca aparece caminhando. Todas as vezes que a sra. de Winter chega a um cômodo, ela já está lá, parada, pois caso ela aparecesse caminhando, isso a teria humanizado). Depois, a casa, isolada, como em Os Pássaros. Aqui, Hitchcock revelou à Truffaut que foi uma necessidade - tratava-se de uma história que se passa da Inglaterra e o filme foi rodado nos Estados Unidos. Porém o fato de isolar a casa também seria um recurso para torná-la mais aterrorizante.
O filme é, na verdade, como um conto de fadas. A jovem sra. de Winter é a Cinderella e a sra. Danvers, a irmã malvada.
A marca de Hitchcock: os rostos iluminados de baixo para cima. Aqui, nessa cena, há o detalhe curioso - a luz vazada no olhar da governanta, de modo a torná-la ainda mais assustadora.
O jogo de luz e sombras no quarto de Rebecca, enorme, como se fosse um templo de uma Deusa morta, onde a governanta guarda todos os objetos da falecida com insuperável zelo mórbido. A cena da camisola é, por exemplo, bastante marcante, em que se nota as propensões lésbicas da sra. Danvers.
Hitchcock conta que a opção de fazer teste com grandes estrelas de Hollywood para o papel era uma estratégia de marketing que o deixava constrangido, pois sabia que a maioria nunca poderia ser Rebecca. A escolha de Joan Fontaine foi importantíssima para o papel, ele conta que ela tinha a fragilidade necessária para o papel, física e emocionalmente.
Aqui, Hitchcock aparece em uma das cenas finais, em que o primo de Rebecca telefona à sra. Danvers. Ele conta que começou a aparecer nos próprios filmes por necessidade (para fazer figuração), mas que depois, o hábito tornou-se uma espécie de superstição. Entretanto, nos filmes posteriores, ele passou a aparecer logo nos primeiros cinco minutos de filme, para não confundir o público no acompanhamento da história.
Bem, em resumo, recomendo não apenas que vejam - ou revejam - o filme - como também que leiam esse livro. Eu tenho a edição de 1986, da Brasiliense, mas soube que a Cia. das Letras o relançou em 2008.Aqui o link da Livraria da Folha para o livro.
Nossa, Marcia, que filmão deve ser Rebecca. Ainda não assisti. Muito obrigada por participar da coletiva e publicar este belo post enriquecendo o evento ainda mais. Adorei seu blog, aparecerei mais vezes.
Abraço
Posted by: Vanessa | domingo, março 07, 2010 at 22:25
Obrigada Vanessa, gosto muito do seu blog. Queria te perguntar: posso
colocar um link na minha seção blogs legais?
Posted by: MarciaCL | segunda-feira, março 08, 2010 at 20:25
Uau, Marcia!
Seu artigo está completíssimo, parabéns! Já li e vi Rebecca várias vezes, para mim é uma das melhores adaptações de livro para o cinema. Leia o livro sim, você vai gostar.
Grande beijo!
Posted by: Cristine | terça-feira, março 09, 2010 at 08:43
Obrigada Cristine, quero ler o livro sim. Volte sempre.
Posted by: MarciaCL | terça-feira, março 09, 2010 at 11:15