Anne Hathaway, em Becoming Jane, cinebiografia de Jane Austen
"Quando se proclamou que a Biblioteca abarcava todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens sentiram-se proprietários de um tesouro intacto e secreto. Não havia problema pessoal ou mundial cuja eloqüente solução não existisse: nalgum hexágono". (BORGES*)
Ia comentar apenas sobre o caso do Google Book Search na justiça americana, quando vi ontem nO Globo o caso da Landmark contra Denise Bottmann, do blog Não Gosto de Plágio, também relativo ao mercado editorial, de modo que vou comentar ambos.
Começando pelo caso do Google Book Search:
Na era da informação, uma guerra que envolve a distribuição privada do conhecimento escrito existente hoje no mundo pode alterar substancialmente o futuro das relações entre o indivíduo e o texto. Um projeto de proporções megalomaníacas, uma nova espécie de enciclopédia digital universal administrada não por governos ou instituições ligadas à educação e pesquisa, mas por uma empresa privada com fins lucrativos, cheia de argumentos sólidos (ver a página deles aqui) e obviamente ocupando um vácuo que nenhuma destas instâncias naturalmente mais apropriadas se dispôs a preencher. Um serviço público de eterna utilidade à humanidade? Ou uma perigosa centralização e privatização do controle do conhecimento? Fiquemos atentos ao debate!
Em matéria publicada no New York Times do último dia 18 de fevereiro, o repórter Motoko Rich relatou que o juiz Denny Chin, da Corte do Distrito Federal de Nova York, começou a sessão de quatro horas de depoimentos sobre o caso dizendo que não iria julgá-lo de imediato porque havia "muito a ser digerido".
De um lado, os defensores da biblioteca digital do Google (entre eles, o presidente da Associação Nacional Americana dos Cegos, o responsável pela Biblioteca de Michigan e um advogado da Sony Electronics.)
O representante do Departamento de Justiça Americano William F. Cavanaugh, reiterou os pontos em que o departamento faz objeções ao acordo que a Google havia feito com alguns representantes do mercado editorial e bibliotecas. Para ele, embora a digitalização dos livros seja positiva, talvez este (acordo) não seja o melhor veículo para atingir tal objetivo.
Em síntese, o acordo permitiria ao Google escanear e tirar lucro de livros com direitos autorais protegidos, sem a permissão dos autores, além de tirar proveito dos chamados "trabalhos órfãos", aqueles cujos autores não podem ser encontrados ou cujos detentores dos direitos não puderam ser identificados.
Henri Matisse - Woman reading
1894; Oil on canvas, 24 1/4" x 18 7/8"; Museum of Modern Art, Paris
Alguns representantes dos autores e editores exigem que o Google remodele o projeto de modo que os autores possam optar se desejam ou não participar do mesmo. A Google argumenta que o custo de contactar e negociar individualmente com milhões de autores seria proibitivo e que isso inviabilizaria o projeto.
E a batalha continua....
Refrescando a memória sobre o que é o Google Book Search neste post.
Foto - biblioteca de Marin - CA
Agora sobre o caso da Editora que está processando uma blogueira no Brasil:
O jornalista Guilherme Freitas publicou ontem no blog do Prosa e Verso do jornal O Globo a matéria falando que a editora Landmark está processando a autora do blog Não Gosto de Plágio, Denise Bottmann.
O motivo foram as denúncias de Denise, que é tradutora profissional, sobre o plágio de duas obras editadas pela Landmark: Persuasão, de Jane Austen e O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë. A editora exige uma indenização de R$ 186 mil e que o blog seja retirado do ar. Nos posts de 6 e 15 de janeiro de 2009, Denise demonstra tim-tim por tim-tim o plágio de tais obras, com as edições Landmark trazendo inclusive os mesmos erros das edições copiadas. Um exemplo engraçadíssimo (para não dizer trágico) é a troca da palavra "átrio" (tradução de lobby) por "trio", falha repetida na tradução original do texto de Jane Austen publicado pela editora.
Agora, que disparate é este que uma editora não vem a público esclarecer algo que, no mínimo, merecia explicações sérias e ainda exige que o blog seja retirado do ar, em impressionante ousadia antidemocrática e cínica?
Torcemos pela Denise e pela autora do site Jane Austen em Português, Raquel Sallaberry, que segundo dizia a matéria do Globo também seria processada.
* BORGES, Jorge Luis. Ficções, São Paulo, Editora Globo, 1989. Trad. Carlos Nejar. p. 65
Cara Márcia,
desculpe pela demora e muito obrigada pelo apoio e divulgação.
Posted by: Raquel Sallaberry | sábado, fevereiro 27, 2010 at 20:20
quatro pesos-pesados da tradução literária no brasil - heloisa jahn, jorio dauster, ivone benedetti e ivo barroso - numa generosa iniciativa de solidariedade juntaram esforços e redigiram um manifesto sobre o processo da landmark contra mim e o nãogostodeplágio.
encontra-se em http://apoiodenise.wordpress.com/, e os dispostos a subscrevê-lo encontram o link do abaixo-assinado no próprio apoiodenise ou diretamente em http://www.petitiononline.com/Bottmann/petition.html
sua adesão a esta manifestação seria de muita importância, e agradeceria muito se pudesse publicar o texto ou os links do manifesto e divulgar entre seus contatos.
obrigada,
denise bottmann
Posted by: denise bottmann | domingo, fevereiro 28, 2010 at 20:17
Oi Denise, é pra já! Vou publicar. Eu mesma já assinei.
Boa sorte, vamos todos torcer por você.
Posted by: Marcia Caetano | quarta-feira, março 03, 2010 at 16:40
Parabéns pelo post.
Posted by: Simone Campos | terça-feira, março 16, 2010 at 23:34
Gostei muito do site.
Posted by: Sandra Teixeira | quinta-feira, abril 08, 2010 at 23:30
Adorei o blog. Parabéns!!! ;)
Posted by: Dayanna | domingo, julho 25, 2010 at 22:33