(foto do blog Becoming Jane) Sally Hawkins e Ruppert Penry-Jones, na versão (excelente, a meu ver) de 2007 da BBC - Sally é uma das atrizes mais talentosas da sua geração e por esse trabalho ganhou dois prêmios, em um total de 13 (!) que já recebeu
" Once so much to each other! Now nothing! [...] There could have been no two hearts so open, no tastes so similar, no feelings so in unison, no countenances so beloved. Now they were as strangers; nay, worse than strangers, for they could never become acquainted. It was a perpetual estrangement".(Jane Austen)
"Antes, tudo um para o outro! Agora nada! [...] Não poderia haver dois corações mais abertos, dois gostos mais similares, sentimentos mais em uníssono, dois rostos mais amados. Agora eles eram como estranhos, não, ainda mais que estranhos, pois jamais poderiam vir a se conhecer. Era um perpétuo estranhamento".
Retornando à Jane Austen, agora inicio uma "série Persuasão" (e também porque ele é o tema do mês no grupo de leitura Chá com Jane Austen, no qual eu participo).
É o meu livro favorito da autora. E a razão principal é que eu não canso de lê-lo. É interessante do ponto de vista criativo. Uma espécie de "a volta dos mortos vivos". Se você tivesse a chance de voltar o tempo atrás em algum acontecimento marcante na sua vida, não teria feito algo diferente? O livro é sobre isso, sobre uma segunda chance, aquilo que muitas pessoas gostariam de ter, mas nem sempre conseguem. É como se o relógio começasse a andar vertiginosamente para trás, para trás ... e, pimba! o que se quebrou pode de novo ser consertado! Mas o mais bacana de tudo é que, apesar de todo esse flash back sentimental (trata-se de uma história de amor), o livro fala do presente. Fala o que se pode fazer para tirar melhor proveito do momento que vivemos aqui e agora, inclusive inserindo a experiência vivida nessa avaliação.
Este é, portanto, o primeiro de uma série de posts e aproveito para lembrar que, logo após essa série, a SEMANA MODIANO vai chegar!!! - uma semana de posts sobre Patrick Modiano, que lança o seu último livro agora em março de 2010 na França.
Ruppert Penry-Jones, defendo a cavalo seu Frederick Wentworth na versão de 2007 da BBC. O diretor, Adrian Shergold, ganhou o BAFTA em 2008 por esse trabalho
O enredo principal de Persuasão é o seguinte: Anne Elliot, uma descendente de um representante da baixa aristocracia inglesa se apaixona, aos 19 anos, por um capitão da marinha em início de carreira, Frederick Wentworth. Anne é persuadida, tanto por pessoas da família quanto por Lady Russel, uma amiga de sua falecida mãe, que cometeria um grave erro ao se comprometer com alguém de um nível social inferior ao seu e recusa então a proposta de casamento que lhe é feita por ele. O início do romance marca o reencontro entre eles, oito anos depois, quando a irmã de Frederick se muda justamente para a Kennlich Hall, a casa da família Elliot, arrendada ao Almirante Croft (cunhado de Frederick) em função de dívidas adquiridas pelo pai de Anne, Walter Elliott, um homem fútil, egocêntrico e vaidoso.
Foto retirada do Cinematic Jane Austen. Amanda Root (Anne Elliot) e Susan Fleetwood (Lady Russell), na versão de 1995, dirigida por Roger Michell, premiada seis vezes, sendo cinco BAFTA. Nessa cena, em que a casa está sendo preparada para ser alugada, nota-se que a paisagem metaforicamente reflete o espírito de Anne, tal como ela se sente no início do livro
O livro começa em uma pauta injusta: enquanto, oito anos após o rompimento, Anne perdeu o viço e os encantos da juventude e nunca se ligou a alguém (e, aos 27 anos, nem tinha mais esperanças de que isso fosse ocorrer), Frederick Wentworth continua tão ou mais atraente do que antes, além de financeiramente bem-sucedido e com todas as fichas para as apostas no mercado casamenteiro.
Em relação aos outros livros de Austen, este se destaca por apresentar uma heroína desencantada com a vida, solitária (sua família não lhe dá nenhum valor), porém - à semelhança de Fanny Price, em Mansfield Park, extremamente doce, sensata e prestativa. Há diversas análises feitas sobre o romance de que este seria um exemplo característico de defesa do mérito próprio relativo à emergente classe média, em contraposição à aristocracia indolente e perdulária (representada pelo pai de Anne, sir Walter Elliot).
Foto retirada do Cinematic Jane Austen. Exemplifica a distância e a formalidade do pai e da irmã de Anne, na versão de 1995
Há três romances de Jane Austen dos seis que deixou completos que trazem um debate intelectual no próprio título. Razão e Sensibilidade (1811), Orgulho e Preconceito (1813) e Persuasão (1817), sendo os outros títulos o nome de uma localidade ou de um personagem. Nestes três, o tema colocado é levantado por termos que se opõem (caso de Razão e Sensibilidade) ou se justapõem (Orgulho e Preconceito) ou simplesmente resumem uma espécie de moto principal do romance como um todo (caso de Persuasão).
No próximo post vou comentar mais sobre como a arte da persuasão está inserida neste livro (título que, segundo consta, não foi determinado por Jane Austen, já que o livro foi públicado postumamente).